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Tenho cinco filhos sendo quatro homens e uma mulher. Sempre sonhei em ser mãe e me sinto muito realizada. Inclusive meu desejo era ter sete filhos. Ao nascer minha única filha, que aliás foi muito esperada porque eu já tinha três meninos, a alegria foi imensa. O nome dela é Claudia. Claudia sempre foi uma menina linda, inteligente, comunicativa e muito alegre. Conversávamos muito sobre quando viria sua primeira menstruação, porque sempre considerei uma etapa muito importante na vida de ...
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Tenho cinco filhos sendo quatro homens e uma mulher. Sempre sonhei em ser mãe e me sinto muito realizada. Inclusive meu desejo era ter sete filhos. Ao nascer minha única filha, que aliás foi muito esperada porque eu já tinha três meninos, a alegria foi imensa. O nome dela é Claudia. Claudia sempre foi uma menina linda, inteligente, comunicativa e muito alegre. Conversávamos muito sobre quando viria sua primeira menstruação, porque sempre considerei uma etapa muito importante na vida de uma mulher que desabrocha para a vida. Inclusive comprei um porta-absorvente muito bonitinho, para que ela não fosse surpreendida pela primeira menstruação se estivesse fora de casa e despreparada. O tempo foi passando... Como menstruei aos 11 anos, achava que ela também menstruaria por volta dessa idade. Mas a menstruação não chegava... e eu justificava achando que era porque ela era descendente de europeus e era uma menina alta para sua idade no padrão brasileiro. Mas aos 13 anos a levamos ao médico que era nosso amigo e havia feito meu parto quando ela nasceu. Ele a examinou exteriormente e sugeriu que a encaminhássemos para outro médico. Assim foi feito e a levamos para a Unicamp. Foi constatado que ela não tinha útero. Fiquei atônita!!! Nem sabia que isso poderia existir... Fiquei muito sofrida e frustrada e durante mais de uma semana não conseguia pensar em outra coisa... Chorava escondida porque não queria que minha filha visse e sentisse o meu sofrimento. Chorava no banheiro ou em outro lugar, sempre longe dela. Quando eu olhava para a carinha inocente de minha filha, sofria mais ainda, porque imaginava que ela realmente não sabia da amplitude do que estava acontecendo e todas as implicações e consequências que isto teria na sua jovem vida. Nada como um dia atrás do outro para nos fortalecer diante dos embates da vida.
Até aquele momento não sabíamos nada sobre a síndrome. Ficamos felizes ao saber que ela tinha ovários, que ovulava e que seus hormônios eram normais. O tempo foi passando ... E ela ficando mais mocinha e linda. Foi estudar medicina em São Paulo e aos 20 anos ficou sabendo dos outros problemas advindos da síndrome, inclusive que teria que dilatar a vagina. Sei o quanto foi sofrida essa fase.
Ela em São Paulo, longe de mim... e eu sofria junto.
Mas o que me animava era perceber o quanto minha filha, apesar das fragilidades, era forte, guerreira e corajosa diante da vida e de seus inúmeros problemas. Ela sempre procurava passar a imagem de destemida diante da adversidade, mas sei que devia ser um grande esforço que ela fazia. Eu e meu marido procurávamos acompanhar todas as dificuldades pelas quais ela passava e foram muitas...
Os quatro irmãos, que também são médicos, sempre deram todo apoio e amor. Foi então que uma ideia começou a me perseguir. Eu queria ser a barriga hospedeira do meu futuro neto ou neta. Naquele tempo esse processo mal havia começado. Como sempre adorei ficar grávida, consultei meu ginecologista e por volta dos 45 anos lhe disse que queria continuar menstruando para preservar meu útero para a nova maternidade.
Como eu tinha boa saúde, ele receitou hormônio e menstruei até os 65 anos de idade. Mas infelizmente minha filha não aceitou minha oferta por vários motivos. Até hoje não concordo com isso, pois eu poderia ter realizado meu sonho e ela, o dela.
Claudia se realizou profissionalmente e como mulher, mas foram necessárias muita garra e força de vontade para superar os obstáculos. Creio que Deus nos fortaleceu e abençoou.
Hoje, por meio do Instituto Roki, percebo que ela tem a oportunidade de ajudar outras garotas, mulheres e famílias que passam por esse problema. Que Deus proteja o Instituto Roki e que ele seja de grande valia para ajudar quem vive e convive com a descoberta da síndrome.
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